Eu ainda me lembro do dia em que decidi deixar o Brasil. Não foi uma decisão fácil nem planejada com precisão. Foi um daqueles momentos em que a vida te coloca diante de um espelho e pergunta: é isso mesmo que você quer?
Na época, eu trabalhava na área contábil, tinha estabilidade, mas sentia que faltava algo essencial — um propósito, um horizonte mais amplo, uma sensação de estar crescendo de verdade.
Eu queria mais do que um emprego; queria construir uma história que tivesse sentido.
E, por mais assustador que parecesse, esse chamado me levou a um destino improvável: Dublin, Irlanda.
Cheguei com o inglês limitado, poucos recursos e muitas incertezas. A princípio, nada parecia encaixar. Eu tinha uma formação sólida, mas ela não valia muito em um lugar onde eu mal conseguia me expressar.
Foi assim que comecei do zero — literalmente. Meu primeiro trabalho foi como garçom em um restaurante. Era exaustivo e, para o meu ego, desconcertante.
Eu vinha de um ambiente onde era reconhecido profissionalmente, e de repente me via limpando mesas e tentando entender pedidos com sotaques que pareciam indecifráveis.
Mas foi nesse contraste que comecei a entender o valor da humildade e da reinvenção.
Trabalhar como garçom me ensinou algo que nenhuma planilha ou relatório contábil havia me ensinado: a importância de ouvir, observar e me conectar com pessoas.
Cada cliente era uma nova aula de inglês, cada turno um exercício de resiliência. E foi nesse cotidiano simples que percebi o que realmente move o ser humano — a vontade de crescer, de aprender e de se adaptar.
Aos poucos, comecei a sentir que aquele recomeço, por mais difícil que fosse, estava me preparando para algo maior.
O empreendedorismo entrou na minha vida quase como uma consequência natural desse processo.
Eu via tantos estudantes brasileiros chegando à Irlanda com as mesmas dificuldades que eu havia enfrentado: a barreira da língua, o choque cultural, o medo do desconhecido.
Foi então que uma ideia começou a tomar forma — a de criar uma escola que fosse mais do que um curso de inglês, que acolhesse, orientasse e ajudasse as pessoas a se reconstruírem em outro país. Essa ideia se tornou a SEDA College.
A SEDA nasceu pequena, com recursos limitados e muitos desafios, mas com uma missão clara: transformar educação em oportunidade real.
Hoje, olhando para trás, percebo que tudo começou naquele dia em que decidi sair do Brasil sem saber exatamente o que encontraria. Cada obstáculo, cada recomeço e cada turno de trabalho em silêncio foram parte de um processo maior de aprendizado.
Recomeçar é um ato de coragem, mas também de fé — fé em si mesmo e no propósito que ainda não existe, mas que se revela no caminho.
A Irlanda me ensinou que a vida não premia quem tem todas as respostas, e sim quem está disposto a aprender enquanto caminha.
E é isso que continuo tentando fazer até hoje: seguir em frente, um dia de cada vez, aprendendo, errando, reinventando e lembrando sempre que, às vezes, é preciso se perder completamente para finalmente se encontrar.




