Palha de aço para professora, preconceito contra aluna de 44 anos: o que esses episódios têm em comum?

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Abismado e um tanto quanto chocado, vi reportagens nos últimos dias sobre algumas situações que me fizeram refletir profundamente.

Um jovem de Ceilândia em Brasília presenteou sua professora negra no Dia Internacional da Mulher com uma esponja de aço. Não bastasse esse episódio, em Bauru, no interior de São Paulo, três alunas gravaram um vídeo assustador.

Elas queriam desmatricular uma colega de classe por que ela tinha 44 anos. Cheguei a conclusão que hoje não basta ridicularizar as pessoas, é necessário divulgar a ridicularização.

E sabe o que é mais engraçado? Quando o caso vem à tona e repercute nacionalmente, os autores simplesmente adotam o mesmo discurso: eu não esperava essa repercussão toda.

Esperava o que? Apenas a chacota local? Esperava acabar com a vida de uma pessoa e a sua permanecer intacta? Não sou à favor do linchamento digital, mas até que ponto devemos tolerar casos como esses?

Ofensas diferentes, casos semelhantes

Sei que os dois casos são diferentes entre si. Em um, a chacota foi feita diretamente com uma professora negra, o que configura um caso explícito de racismo. No outro, temos o preconceito do etarismo.

No entanto, nos dois casos temos a semelhança da humilhação como espetáculo, o uso da vítima para tentar engrandecer o seu ego, achando que debochar do outro é engraçado.

E pior, entre as pessoas mais próximas tenho a certeza de que tais sujeitos ainda devem dizer: nossa como o mundo está ficando chato, não se pode nem brincar mais.

Afinal, em um passado não muito distante, esse tipo de zombaria era aceito e compactuado pelas maiorias que não tinham a capacidade de se colocar no lugar das minorias. Mas o mundo mudou.

E nós não aceitamos mais isso

É importante deixar claro que nós não queremos mais uma sociedade regida pelo preconceito, pela discriminação e pala autoafirmação através da humilhação.

Humor é válido, sadio. Mas fazer humor às custas do sofrimento alheio não é e nunca foi legal. Se antes era aceito, agora não é mais. E cabe, portanto, às escolas tomarem as devidas providências.

Pelo que vi, as estudantes de biomedicina tiveram que abandonar o curso. Queriam desmatricular a colega de classe, e quem foi desmatriculadas foram elas.

Já o rapaz de Ceilândia deverá responder um belo processo de racismo, e se possível pagar na justiça o sofrimento que causou para sua professora.

Devemos sim pensar em uma sociedade mais tolerante e justa, mas não devemos em hipótese alguma ser tolerantes com os intolerantes. Caso contrário, esse segundo grupo crescerá, e achará que pode fazer aquilo que lhe convém.

Que fique o aprendizado para todos, e que não deixemos mais que situações como essa aconteçam como se fosse normal isso, porque não é.

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