Mudar nunca é fácil. É um processo que mexe com tudo o que nos dá segurança — as rotinas, as certezas, os papéis que aprendemos a desempenhar.

No início da minha jornada, eu achava que mudar era uma questão de escolha racional, mas com o tempo percebi que é muito mais emocional do que lógica.

Mudar é se despedir de versões de si mesmo, e isso dói. Mas também aprendi que, por trás de cada mudança difícil, existe um convite silencioso da vida: seguir em frente, mesmo com medo.

Quando decidi deixar o Brasil e começar de novo na Irlanda, o medo estava em cada detalhe. Medo do idioma, medo do fracasso, medo de não me encaixar.

É curioso — quanto maior o sonho, maior o medo que o acompanha. E, por um tempo, achei que a coragem era o oposto desse medo. Hoje sei que não é.

A coragem não elimina o medo; ela apenas escolhe avançar com ele ao lado. A diferença entre quem muda e quem fica é simples: um espera o medo passar, o outro decide caminhar mesmo tremendo por dentro.

A mudança exige humildade. Quando cheguei à Irlanda, precisei abandonar títulos, confortos e o reconhecimento que tinha construído no Brasil. Voltei a ser aprendiz.

Comecei como garçom, observando mais do que falando, reaprendendo a me comunicar e a entender o que realmente significava recomeçar.

Naquele momento, percebi que mudar não é perder o que fomos é descobrir o que ainda podemos ser.

Toda transformação verdadeira começa quando aceitamos não ter o controle de tudo.

Com o tempo, entendi que o medo de mudar está muito mais ligado à necessidade de aprovação do que à mudança em si.

Temos medo do julgamento, do erro, do olhar dos outros.

Mas a verdade é que o mundo sempre vai opinar, e ninguém além de nós sabe o preço que pagamos por permanecer onde não deveríamos mais estar.

O medo paralisa quando damos mais peso às expectativas externas do que à nossa própria intuição.

Seguir em frente, para mim, é um exercício de fé — fé em algo que ainda não existe, mas que começa a se formar a cada passo.

Foi essa fé que me manteve firme quando decidi empreender, quando criei a SEDA e quando precisei recomeçar inúmeras vezes.

O medo sempre esteve lá, mas aprendi a usá-lo como sinal de que estou me movendo na direção certa. Porque o medo só aparece quando algo importante está em jogo.

Hoje, quando alguém me pergunta como lidar com o medo de mudar, eu respondo: não lute contra ele, caminhe com ele.

O medo não é o fim da coragem; é a prova de que ela está viva. A vida não foi feita para ser previsível, e a segurança que buscamos raramente está no lugar onde começamos.

Está no passo que ainda não demos — e na coragem que surge quando finalmente decidimos seguir em frente.

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