Eu não sou obcecado pela inovação em si. Gosto de resolver problemas, gerar valor real e construir soluções que façam sentido para o presente, mas sem perder de vista o que está vindo logo ali, na curva do tempo.
E talvez seja justamente por isso que observar empresas que morreram por inovar tarde demais sempre me intrigou. Não pelo fracasso em si, mas pelos padrões que se repetem. Pela miopia estratégica disfarçada de prudência. Pela lentidão travestida de segurança.
O problema nunca começa na tecnologia
Um dos primeiros aprendizados que tive é que as empresas não quebram porque uma nova tecnologia surgiu. Elas quebram porque ignoraram os sinais de que o comportamento do cliente já tinha mudado.
A Kodak não quebrou por falta de inovação. Ela criou a primeira câmera digital — e engavetou. Tinha medo de canibalizar seu próprio modelo de negócio.
O problema foi acreditar que o filme fotográfico ainda era o centro da experiência, mesmo quando as pessoas já queriam guardar e compartilhar imagens de outras formas.
O Blockbuster também não quebrou por culpa da tecnologia de streaming. Morreu porque acreditou que o modelo de locação física ainda era insubstituível. Quando percebeu que o cliente queria comodidade, personalização e liberdade, já era tarde demais.
Inovação não é um projeto, é um reflexo cultural
Empresas que inovam tarde demais normalmente não têm problema de competência técnica. Elas têm problema de cultura.
Quando a cultura é conservadora, a tendência é rejeitar tudo o que parece arriscado, mesmo que o risco maior seja continuar fazendo as mesmas coisas.
E aí o ciclo se repete: a empresa ignora os primeiros sinais, desacredita as tendências, subestima novos entrantes no mercado… e quando finalmente decide agir, está fora do jogo.
Aprendi que inovar exige uma cultura que tolera o erro, que estimule curiosidade, que permita experimentar antes de precisar acertar. E isso não se constrói com campanhas internas, mas com coerência no dia a dia.
O custo de não antecipar
Uma das consequências mais perversas de inovar tarde demais é que, quando finalmente se tenta, o movimento já não é estratégico — é reativo. É feito com pressa, sem planejamento, com decisões que visam conter danos, não gerar vantagem.
Inovar com urgência custa mais, desgasta mais e, muitas vezes, chega tarde. Porque inovação feita com pressa geralmente nasce desalinhada do propósito da empresa.
Eu vi isso acontecer em empresas que tinham tudo para liderar a transformação — capital, equipe, estrutura — mas esperaram os resultados caírem para, só então, começar a se mover. E aí, já não era mais sobre liderar. Era sobre tentar sobreviver.
O dilema da zona de conforto
Outro ponto que sempre me chamou atenção é como o sucesso pode ser um anestésico perigoso. Quando as coisas estão funcionando, existe uma resistência quase natural em mexer no que dá certo.
O problema é que a zona de conforto, em um mercado dinâmico, é sempre uma armadilha temporária. A pergunta que carrego comigo é: estamos crescendo porque estamos no caminho certo — ou porque ainda não chegou alguém para nos desafiar?
Esperar o desconforto bater na porta é arriscado demais. É por isso que acredito que desconstrução consciente deve fazer parte da rotina estratégica. Antes que o mercado te force a isso.
Conclusão
Sempre digo que observar empresas que morreram por inovar tarde demais me ensinou muito sobre tempo, cultura e humildade estratégica.
Inovar não é correr atrás do futuro quando ele já virou presente. É manter o radar ligado, as estruturas leves e a mente aberta — mesmo quando tudo parece confortável.
Porque no fim das contas, não é o tamanho que protege uma empresa. É a capacidade de se mover antes de precisar correr.